Por: M. Biasi
A ação pedagógica é uma forma de compreender a realidade escolar, compreender o conjunto de ideias sobre o que é possível e desejável em termos educativos. Para tanto, é essencial que se desenvolva a discussão e analise coletiva sobre os referenciais teóricos adotados na elaboração, no desenvolvimento e na avaliação do currículo escolar. “O currículo é o que determina o que se passa na escola numa acepção ampla, que é um instrumento potente para a transformação do ensino e um instrumento imediato, porque é um guia facundo para o professor”. (STENHOUSE, 1991.p.11).
Na tendência tradicional de currículo escolar, o pensamento é tido como uma capacidade de arquivar informações, evidenciando o aspecto cumulativo do conhecimento. Nesse sentido, ensinar é transmitir conhecimentos já sistematizados e acumulados pela humanidade, em que o papel do professor pode ser resumido como “dar a lição” e “tomar a lição” num ensino basicamente enciclopedista. “A aprendizagem valorizada é a que propicia a formação de reações estereotipadas, de automatismos, denominados hábitos geralmente isolados uns dos outros e aplicáveis, quase sempre, somente às situações idênticas em que foram adquiridos”. (MIZUKAMI, 1986, p.13-14). Aprender consiste em adquirir informações que preparem o sujeito intelectual e moralmente para adaptar - se a sociedade, tendo o aluno como uma “tabua rasa”, receptor apenas. Quanto ao método, nessa perspectiva, ”a ênfase recai na transmissão do conhecimento, que deve ser rigorosamente lógica, sistematizado e ordenado” (MARTINS, 1989, p.40), daí o uso do método expositivo, que tem a figura do professor como centro. A avaliação geralmente se restringe à evocação dos conhecimentos memorizados, por meio de interrogatórios orais, provas e trabalhos escritos sob uma vigilância constante do professor. A modalidade da avaliação adotada é a somativa e a classificatória no qual a ênfase recai no resultado final.
O ponto fundamental desse processo será o produto da aprendizagem. A reprodução dos conteúdos feitos pelos alunos, de forma automática e sem variações, na maioria das vezes é considerada como um poderoso e suficiente indicado de que houve aprendizagem e de que, portanto, o produto está assegurado. (MIZUKAMI, 1986, p.15).
Na configuração do currículo cuja tendência é a escolanovista, o conhecimento é uma construção continua realizada pelo aluno. Ensinar nessa teoria implica “criar condições que priorizem as atividades do aprendiz, tendo em vista o desenvolvimento dos aspectos cognitivos e considerando-o inserido numa situação social” (EYNG, 2007, p.122). O papel do professor implica uma ação sobre o meio provocando a ação de descoberta no aluno considerando seus interesses, necessidades, expectativas e motivações. Em ultimo caso ele media a construção do aluno no processo educativo. Aprender nessa perspectiva implica assumir os objetivos a esquemas mentais, e ampliar as estruturas cognitivas do próprio conhecimento conforme a teoria piagetiana. E o aluno passa de agente passivo para uma atitude ativa tornando - se o centro do processo de ensino – aprendizagem, aprendendo a aprender.
O método nessa teoria deve essencialmente favorecer e valorizar atividades significativas dos alunos. A avaliação “é fluida e tenta ser eficaz à medida que os esforços e os êxitos são pronta e explicitamente reconhecidos pelo professor”. (LIBANEO apud EYNG, 2007.p.127). A modalidade de avaliação adotada é a formativa, em que a preocupação reside em controlar o desenvolvimento cognitivo no processo educativo, sendo usada também a avaliação somativa, com o intuito de verificar o desenvolvimento cognitivo atingido ao final do processo.
Na teoria da escola nova, há uma valorização da experiência vivenciada pelo aluno, levando em conta as diferenças individuais. O enfoque é predominantemente psicológico. O aluno é considerado o centro do processo. Os métodos de observações, experimentação, de projetos e centos de interesses (entre outros) visam valorizar seu caráter globalizador e definir da orientação do processo de ensino. (MARTINS apud EYNG, 2007, p.126).
Já a tendência tecnicista, considera o conhecimento como resultado da experiência, caracterizando – se pelo “saber fazer”. O ensino pauta – se nos princípios da racionalidade, da eficiência e da produtividade, consiste num arranjo de contingência de reforço (elogios, graus, notas, prêmios, prestigio etc.) sob as quais o aluno aprende e é de responsabilidade do professor assegurar a aquisição do comportamento. Aprender é uma questão de mudança de comportamento, em função de objetivos instrucionais cuidadosamente definidos. O centro do processo desloca - se para os meios, ocupando professores e alunos, posição de executores (EYNG, 2007).
A metodologia e decorrentes instrumentos constituem preocupação central nessa abordagem, ”incluem tanto a aplicação de técnica educacional e estratégias de ensino como formas de reforço no relacionamento professor – aluno”. (MIZUKAMI apud EYNG, 2007, p.130). O método visa atender os princípios da individualidade, adequando - se ao ritmo de cada aluno. O tema aplicado em pequenas porções busca levar a uma verificação imediata, visando à ausência de erros. A avaliação, geralmente rigorosa, assume função de controle e consiste em constatar se o aluno aprendeu os objetivos propostos no programa e se o mesmo foi conduzido até o final (produto) de modo adequado. A avaliação tende a ser diagnostica, formativa e somativa.
A ênfase da proposta dessa abordagem se encontra na organização (estruturação). Dos elementos para as experiências curriculares. Será essa estrutura que irá dirigir os alunos pelos caminhos adequados que deverão ser percorridos para que eles chequem ao comportamento final desejado, ou seja, o objetivo final. A aprendizagem será garantida pela sua programação. (SAVIANI, 2003, p.31).
No currículo crítico, concepção amplamente difundida por Paulo Freire, ocorrem variações teóricas bastante significativas, focando, sobretudo aspecto sócio – político – culturais do contexto brasileiro. Aprender nessa perspectiva é um ato de conhecimento da realidade concreta da situação real vivida pelo aluno, e tem sentido apenas se resultar de uma aproximação critica dessa realidade. Ensinar implica provocar e mobilizar o aluno (entabular o dialogo) na sua fala com a realidade “ao aluno competirá, portanto, a partir de sua experiência sócio – cultural imediata a participar ativamente do processo de aprendizagem, confrontando suas apreensões com os modelos e conteúdos expressos pelo professor” ( MIZUKAMI, 1986, p.85), e este não assume papel autoritários, mas permanece vigilante perante o processo.
A metodologia privilegia o relacionamento professor – aluno, enfocando não indivíduos separados, mas o grupo. Utilizando situações vivenciais do grupo, em forma de debate, Paulo Freire (apud MIZUKAMI, 1986, p.100), delineou seu método “(...) tem como características básicas: ser ativo, dialógico, crítico, criar um conteúdo programático próprio e usar técnicas tais como redução e codificação”. O método provoca a problematização e a originalidade, mediante desafios ao aluno, no dialogo homem – mundo. A verdadeira avaliação do processo consiste na autoavaliação e/ou avaliação mutua (todos avaliam e são avaliados), cuja modalidade adotada é a processual, integrando a diagnostica, a formativa e a somativa. Nessa tendência.
O homem é desafiado constantemente pela realidade e a cada um desses desafios deve responder de uma maneira original. Não há receitas ou modelos prontos (de respostas), mas tantas respostas quanto forem os desafios, sendo igualmente possível encontrar diferentes respostas para um mesmo desafio. As respostas que o homem dá a cada desafio não só modifica a realidade em que está inserido, como também modifica a si próprio, cada vez mais de maneira sempre diferente (perspectiva interacionalista na elaboração do conhecimento). (EYNG, 2007, p.135 -136).
Nas concepções anteriores ao modelo critico, os elementos didáticos do currículo exercem um forte papel instrumental, que existem até hoje. Na concepção atual, currículo pós – crítico ou inovador, a didática considera o contexto formativo, analisando os fundamentos teóricos – aplicativos mais adequados a cada situação. A questão central dessa concepção é a aprendizagem e desloca o desenvolvimento do aluno em sua capacidade de aprender a aprender, compreender como aprende desenvolvendo estratégias capazes de aperfeiçoar sua condição de aprender, desafiando o aluno nesse intento. “O papel do professor deixa de ser simples orientador e passa a ser o de criar duvidas levando o aluno a pensar e perguntar – se. A gestão do processo formativo tem a concepção modificada e ampliada, deixando de ser responsabilidade de um pequeno grupo, passando a ser tarefa compartilhada”. (EYNG, 2007, p.139).
No método do contexto atual a didática é uma esfera de ação – reflexão –ação de propostas curriculares capazes de colabores para a educação integral num contexto em transformação. Também é modificado o conceito de avaliação e, consequentemente, visam-se novas práticas avaliativas. A avaliação não é mais um processo exterior, pois então se supõe que “são os próprios participantes que melhor conhecem os significados e interpretações das aprendizagens e que por isso estão melhor posicionados por participar da avaliação “. (FERNANDES apud EYNG, 2007, p. 113). Por tanto, no entendimento critico atual,
O currículo absorve categorias inclusivas, como centro do discurso educativo: além de ser concebido como pratica social intencional com dimensões regional e local, inclui temas importantes como currículo e conhecimento, como o resgate do papel da escola e a valorização do professor, o papel do aluno, abrangendo também focos emergentes como a questão da transversalidade, trabalhando temas em dimensões disciplinares diferentes, fazendo nexos e elas, informando redes de conhecimento. A participação é um outro foco precioso, fundamental parta uma nova proposta de discussão da educação nacional. É, pois, neste painel que se discute, hoje, o currículo. (MOREIRA, 2005, p.5).
A inovação pedagógica se processa mediante organização de projetos integrados de aprendizagem. “A proposta pedagógica na formação integral articula o pensar, o sentir, e o agir inovador na produção do conhecimento”. (EYNG, 2007, p. 148). O currículo integrado supera a dicotomia e a fragmentação formativa e enfatiza a construção do conhecimento interdisciplinar, contextualizado, o qual promove a aprendizagem significativa por meio da aplicação da pesquisa.
Referencias:
EYNG, A. Currículo Escolar. Curitiba: Ibpex, 2007.
MARTINS, P. Didática Teoria – Didática Prática: Além do Confronto. São Paulo: Loyola, 1989.
MIZUKAMI, M. Ensino: As Abordagens do Processo. São Paulo: EPU, 1986.
MOREIRA, C. Currículo e Realidade Multicultural na Fronteira – a Universidade federal de Rondônia: Possibilidade e Enfretamento. IN: Colóquio Internacional Paulo Freire, S, Recife, 2005.
SAVIANI, N. Currículo um Grande Desafio para o Professor. Revista de Educação, São Paulo, v., n. 16, 2003.
STANHOUSE, L. Investigação e Desenvolvimento do Currículo. São Paulo: Bagaço, 1991.