4 de jun. de 2012

Educação e Diversidade no contexto atual

Por: M. Biasi

O termo “diversidade” está relacionado à qualidade daquilo que é diverso, variado, diferente, ou até mesmo da variedade, à multiplicidade, ao desacordo, à contradição, à oposição. Encontra também correspondência com as palavras alteridade, diferença e dessemelhança. Abgnano (apud MICHALISZYN, 2007, p.22) ao comentar sobre a diversidade afirma que ela é,

Toda alteridade, diferença ou dessemelhança. O termo diversidade e mais genérico do que esses três e pode indicar qualquer um deles ou todos juntos. Pode, outrossim, indicar a simples distinção numérica que se tem quando duas coisas não diferem em nada exceto por serem numericamente distintos. Nesse sentido, a diversidade e a pura e simples negação da Identidade; e exatamente Wolf a definia dizendo que são as coisas que não podem ser substituídas uma pela outra permanecendo firmes os predicados que se articulam a cada uma delas ou absolutamente ou em dada condição. 

O que é patente é que vivemos em uma sociedade que se prevalece das diferenças, admite a alteridade, por outro lado acentua a dessemelhança e evidencia a diversidade (MICHALISZYN, 2007).
A escola como espaço onde as contradições sociais se manifestam, converte-se em um dos cenários do multiculturalismo, da convivência harmônica entre as culturas. Na educação, essa é uma questão que se faz presente de todas as formas, “de um lado porque todas as lutas pela emancipação dos setores desfavorecidos da população refletem na escola; de outro lado, porque ela é também espaço onde as contradições são vivenciadas pelas famílias, pelo corpo docente, pela direção e pela equipe pedagógica“ (FREITAS, 2011, p.93).

(…) a realidade das sociedades capitalista e industrializadas é por definição, multicultural: os deslocamentos humanos, os processos migratórios em massa, a entrada da mulher no mundo do trabalho, a circulação é ininterrupta de mercadorias e informações culturais colocaram em cena a questão da diversidade de maneira sem precedentes na historia, principalmente no ocidente. Daí a necessidade de dialogo entre as culturas. Nesse sentido, uma educação intercultural é aquela que tem como principio a interação entre as culturas. (…) para a interculturalidade, não basta saber identificar as diferenças, são necessárias as interações e a trocas entre as partes (FREITAS, 2011, p.93-94).

Na perspectiva intercultural os sujeitos interagem na escola, partilham, produzem e sistematizam saberes relativos à afirmação de identidade criticas e criativas. A aprendizagem resulta na convergência de múltiplas culturas representadas no espaço escolar e que se expressam nas narrativas e praticas de alunos e professores. “É produzida na comunicação entre sujeitos que partilham historias de vida, convicções, saberes e que, assim, apropriam-se de conhecimentos significativos para a sua autoafirmação, para a constituição de sua identidade cultural e autonomia intelectual” (ARAÚJO, 2010, p.74). Assim, as práticas pedagógicas são colocadas em ruptura com a hierarquização de saberes que opõem o popular e o erudito, o cientifico e o cultural, o saber e o não saber.

 Interculturalismo pode ser definido como a interação e a convivência entre as diferentes culturas. O imperativo para tal empreendimento passa primeiro pelo respeito com o diferente, caso contrario, não há dialogo. Esse respeito é percebido através do reconhecimento das diferenças, da complexidade dos diferentes universos culturais e da busca de soluções possíveis a partir de atitudes coletivas, que considerem a que o “outro” tem para contribuir (FREITAS, 2008, p.94).

As experiências de educação indígena a partir da atuação de um professor bilíngue nas aldeias e a transição para escolas das cidades vizinhas constituem experiências interculturais nas quais as crianças indígenas têm acesso ao conhecimento de sua cultura na sua língua nativa e com material didático– pedagógico específico.
As escolas itinerantes do MST (movimento dos trabalhadores sem terra) podem ser consideradas experiências interculturais, uma vez que as escolas desse movimento social possuem um projeto educativo próprio que atende as modalidades do EJA, à educação infantil e ao ensino fundamental.
Outra iniciativa que, ao longo do tempo, resultará em práticas interculturais é a lei Nº – 10.639/2003, que torna obrigatório a temática “Historia e Cultura Afro – brasileiro e Indígena” nos currículos escolares. Constitui sem duvida um avanço no sentido de superarmos o racismo em nossa sociedade (FREITAS, 2011).

A diversidade sociocultural se evidencia em razão das oportunidades de acesso pelas crianças e adolescentes das classes populares, as quais trazem para dentro do espaço  escolar diferentes visões de mundo. Ao chegar á escola, uma criança é portadora de experiências acumuladas ao longo de sua primeira infância, das atitudes, dos hábitos, valores que refletem a cultura do grupo social, ou melhor, do meio no qual ela convive e que se constitui no seu espaço sociocultural. (MICHELISZYN, 2011, p.91).

O contexto escolar precisa ser pensado como um espaço de livre expressão de escolhas e da possibilidade de escolhas conscientes acerca dos caminhos que o sujeito pretende seguir. O processo educativo deve, segundo (MICHELISZYN, 2011), oferecer instrumentos e alternativas para que “os indivíduos tomem consciência sobre si, sobre o outro e sobre a sociedade na qual vivem, caracterizando-se como um encontro de dialogo, transformação do mundo e humanização de todos” (p.93).
A sociedade atual, composta pela diversidade, exige da escola, dos professores e daqueles que legislam em favor das causas populares o (re) pensar das práticas educativas. Foi com base nesses parâmetros que a UNESCO, após análises acerca de realidade de contextos educacionais diferenciados, apontou em seus princípios o que ficou denominado; “os quatro pilares da educação”, publicados no relatório para a UNESCO da comissão internacional sobre educação para o século XXI (CAMPOS, 2005, p.103):
Aprender a conhecer: aprender com qualidade, sabendo utilizar seus conhecimentos quando necessário. Compreender o mundo que há cerca a fim de viver dignamente, para desenvolver as suas capacidades profissionais, para comunicar. Enfim, compreender, conhecer, descobrir;
Aprender a fazer: valorização da qualificação social, das relações interpessoais, ser sujeitos, criar, inovar. Possibilitar a descoberta progressiva do outro e garantir a participação em projetos comuns, como estratégia para evitar ou revolver conflitos latentes;
Aprender a viver juntos: aprender a viver com o outro, a se relacionar em grupo, saber administrar conflitos, quando eles surgirem ao desenvolver projetos coletivos. Tomar consciência das semelhanças e da interdependência entre todos os seres humanos. Descobrir-se e descobrir ao outro.
Aprender a ser: agir com autonomia, critica e criatividade. Desenvolver talentos e permanecer donos do próprio destino.

(…) a educação é uma ciência, mas também é a arte de criar, conviver, compartilhar. E o educador, o cientista que se debruça na pesquisa pelo conhecimento sem esquecer que para alem da ciência, outros saberes estão sendo construídos fora dos muros da escola: nas cidades; nos condomínios de luxo; nas vilas; nas favelas; nos rios amazonas e Solimões e tantos outros; nas comunidades ribeirinhas; nas roças e nas praças; nos corredores e nos leitos de hospitais, onde crianças, jovens, adultos e idosos recuperam a sua saúde. Enfim, a educação sempre se fará presente onde estiverem reunidos seres humanos comunicando-se, convivendo, aprendendo a ser, a viver juntos aprendendo a fazer, a transformar e a conservar a natureza por meio da cultura (MICHALISZYN, 2008, p.129). 

Promover uma educação respeitadora das diferenças sem ressentimentos é o desafio posto aos professores que atuam em um contexto educativo multicultural, onde não cabe um modelo único da educação, ou mesmo de privação cultural. Diariamente esse profissional depara-se com alunos oriundos de culturas distintos, costumes, crenças, ideologias e uma maneira própria de pensar e situar-se no mundo. É, portanto, preciso desenvolver uma ação compatível propondo uma relação harmoniosa entre as diferentes culturas que ali transitam.
Para isso, o professor precisa fomentar o dialogo o aprender com o outro, observando as características e singularidades de cada aluno a fim de propor a troca de saberes entre os pares e cujo respeito pelas diferenças prevalece e resultem no conhecimento do "outro” e esse deixe de ser “exótico”. Proposta que pode se realizar na perspectiva da interculturalidade.


Referências:

ARAUJO, M. Ensaios Sobre a Aula: Narrativas e Reflexões da Docência. Curitiba: IBPEX, 2010.

CAMPOS, M. Culturas Locais e Regionais: Valores, Mitos, Lendas e Crenças. IN: Unesco. A Criança Descobrindo, Interpretando e Agindo Sobre o Mundo. Brasília: ED. UNESCO, 2005.

FREITAS, F. A Diversidade Cultural Como Prática Educativa. Curitiba IBPEX, 2011.

MICHALISZYN, M. Educação e Diversidade. CURITIBA: IBPEX, 2007

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