10 de dez. de 2012

Alfabetizar, Letrar ou ambas as coisas?

DICAS DE LEITURA LIVRO PRÁTICAS ALFABETIZADORA NAS SÉRIES INICIAIS

                                     LIVRO BRINCADEIRAS NA EDUCAÇÃO INFANTIL

Realizei uma resenha do livro “Da Alfabetização ao Letramento”. Pois esse material é de extrema importância para os professores que estão querendo refletir sobre a sua prática educativa, buscando estratégias diferenciadas no processo alfabetização-letramento de seus alunos.
O objetivo do livro é levar o leitor a refletir como se desenrola o processo de alfabetização na perspectiva do letramento. Os conceitos discutidos pela autora Josiane Cardozo Kieckhoelfel demonstram como ocorre esse processo, bem como traz a contribuição das diferentes tendências e métodos nesse campo educativo.
A autora inicia a sua obra analisando as transformações que o processo de aquisição da leitura e da escrita teve no Ocidente, na América do Norte e do Sul, ao longo do tempo, constatando que esse processo teve três períodos distintos: Estudo dos Métodos; Fracasso Escolar; e, por último, busca de resposta para a pergunta “Como se dá a aquisição do conhecimento?”

O primeiro período corresponde à primeira metade do século XX, quando a discussão se dava exclusivamente ao como se ensinava. Procurava-se o melhor método para ensinar a ler; com base na pressuposição de que a ocorrência de fracasso se relacionava com o uso de métodos inadequados.

O Método Global defendia que o melhor era oferecer ao aluno a totalidade, palavras, frases ou pequenos textos, para que ele, após análise, chegasse às partes, que são as sílabas e letras.  O Método Fonético ou Sintético, ao contrário, apresentava que o aluno tinha de aprender primeiro as letras ou sílabas, e o som das mesmas, para depois chegar a palavras ou frases curtas e, por último a textos. (KIECKHOELFEL, 2012, p. 5).

O Método fonético ou Sintético, ao contrário, apresentava que o aluno tinha de aprender primeiro as letras ou sílabas, e o som das mesmas, para depois chegar a palavras ou frases curtas e, por último a textos.
No Brasil, tentou-se um método misto, a junção do método global e do método fonético, e criou-se, então, as nossas conhecidas “cartilhas”, que traziam pequenos textos, porém, apresentavam e separava-se todas as sílabas do texto, dando-se ênfase as sílabas simples e, mais ao fim do ano, ensinava-se as sílabas complexas (KIECKHOELFEL, 2012).
            Na década de 60 começou-se a perceber um alto índice de fracasso escolar e, tanto professores quanto governantes precisavam encontrar uma explicação para estes índices alarmantes. Por isso, mudou-se o foco de estudo, passando-se dos métodos às causas do fracasso escolar. Primeiro buscou-se no aluno a causa do seu próprio fracasso, depois como tentativa de diminuir o fracasso escolar, muitas instituições de ensino implantaram os ciclos. Que também fracassou.
O terceiro período, responsável por mudanças bruscas na concepção que se tinha sobre educação e, principalmente, sobre a concepção que se tinha do processo de ensino e de aprendizagem, começa em meados dos anos 70, e estende-se aos anos 80.

Se num primeiro momento o enfoque se dava sobre os métodos e sua eficácia e, no momento seguinte a preocupação tinha o foco nas causas do fracasso escolar, agora, a preocupação estava em definir e compreender o como a criança aprende. Em lugar de procurar analogias que esclarecessem a dificuldade dos que não conseguiam aprender, começou-se a tentar compreender como aprendem os que conseguem ler e escrever sem dificuldades e, principalmente, quais as hipóteses que possuem a respeito da escrita aqueles que ainda não se alfabetizaram (KIECKHOELFEL, 2012, p. 9).

Um trabalho de investigação coordenado por Emília Ferreiro e Ana Teberosky, publicado no Brasil, em 1985, com o título Psicogênese da Língua Escrita, foi o marco inicial para respostas a estas perguntas. A partir deste estudo ficou claro que não se pode mais ensinar como se ensinava antes e, então, é necessário rever os conceitos que se tinha sobre educação e, mais especificamente, sobre alfabetização. Sobre essa questão, Ferreiro apud PROFA (2001, p.8) nos esclarece que

[...] as mudanças necessárias para enfrentar sobre bases novas a alfabetização inicial não se resolvem com um novo método de ensino, nem com novos testes de prontidão nem com novos materiais didáticos. É preciso rever os pontos por onde nós fazemos passar o eixo central das nossas discussões. Temos uma imagem empobrecida da língua escrita: é preciso reintroduzir, quando consideramos a alfabetização, a escrita como sistema de representação da linguagem. Temos uma imagem empobrecida da criança que aprende: a reduzimos a um par de olhos, um par de ouvidos, uma mão que pega um instrumento para marcar e um aparelho fonedor que emite sons. Atrás disso há um sujeito cognoscente, alguém que pensa, que constrói interpretações, que age sobre o real para fazê-lo seu.

                        Procurando compreender como a criança desenvolve sua escrita na perspectiva de desenvolvimento apontada por Piaget (sensório motor, pré-operatório, operatório concreto e operatório formal), a autora buscou nas pesquisas de Emilia Ferreiro sobre a “Psicogênese da Língua Escrita” a descrição do processo de aquisição da língua escrita em que ela afirma que o ato de ensinar a ler e escrever são fundamentalmente atribuições da instituição escolar e traz um novo olhar sobre a questão do fracasso escolar, compreendendo que, por trás de métodos ou qualquer recurso didático existem sujeitos únicos, singulares. Sendo necessário, portanto, uma a explicação sobre o desenvolvimento da criança no ato de ler e escrever, do ponto de vista cognitivo, classificando em hipóteses:
Pré-silábica (“época das garatujas”); Silábica (hipótese de que a escrita representa a fala); Silábica - alfabética (o início dos problemas ortográficos, visto que há várias palavras com o mesmo som, por exemplo, xampu, chuva, etc.); Alfabética (As dificuldades percebidas nas crianças são relativas às questões ortográficas, que podem ser facilmente superadas com jogos e brincadeiras que dão enfoque a esta questão).
Nesse contexto os jogos e brincadeiras são de suma importância nesse processo, visto que conceitos como estes precisam ser internalizados e não decorados. E, por isso, “o trabalho com cartilhas ou atividades prontas do mesmo nível não acrescentam nenhuma forma de aprendizagem nem de desenvolvimento nas crianças” (KIECKHOELFEL, 2012, p. 22). Portanto, é necessário desenvolver uma ação que conceba o construtivismo no processo educativo, visto que “é no processo construtivo que o indivíduo elabora a sua própria inteligência adaptativa e o seu próprio conhecimento.” (RIBEIRO; PINTO, s.d., p.9). Pois,

[...] no construtivismo o aprendiz é um sujeito, protagonista do seu próprio processo de aprendizagem, alguém que vai produzir a transformação que converte informação em conhecimento próprio. Essa construção, pelo aprendiz, não se dá por si mesma e no vazio, mas a partir de situações nas quais ele possa agir sobre o que é o objeto de seu conhecimento, pensar sobre ele, recebendo ajuda, sendo desafiado a refletir, interagindo com outras pessoas. (PROFA, 2001, p.4).

O construtivismo é fundamentado na psicologia do desenvolvimento de Piaget, e tem por razão de todo o processo a Psicogênese, que é o processo de construção do conhecimento e a Psicogenética, que são as fases de desenvolvimento em que cada criança passa. A autora destaca no módulo algumas características da teoria construtivista:
a)    A interação acontece em dois níveis: intrapsíquico (dentro do próprio sujeito) e a nível intraideias (as várias ideias dos colegas);
b)    O conhecimento é construído coletivamente, na interação alunos – alunos, aluno – professor;
c)    O aluno tem a oportunidade de aprender no concreto, podendo experimentar, criar as hipóteses, e reformulá-las (diferente do que se tinha antes que o professor impõe o que se aprende, sem a participação do aluno);
d)    Pode haver conversas entre os colegas para construção de hipóteses mais elaboradas (troca entre os pares);
e)    Neste sentido, quanto mais diversificado o grupo melhor, pois uns podem ajudar os outros e, dependendo o nível de escrita em que estão, o professor pode fazer agrupamentos para criar situações de conflito e ampliar o nível de todo o agrupamento;
f)     O aluno é um sujeito que pensa, compara, estabelece relações, principalmente quando “olha” para o que o colega fez;
g)    Os estímulos são feitos através de desafio, de situações de conflito.
 Sua metodologia consiste em fazer uso de atividades espontâneas da criança, gerando e/ou ampliando o nível de conhecimento na criança.
Porém, nas práticas pedagógicas observadas frequentemente, mesmo a dos professores que se dizem construtivistas e inovadores nas atividades propostas aos alunos, percebe-se ainda fortemente um enfoque na alfabetização, simplesmente. Neste sentido,

[...] um indivíduo alfabetizado não é necessariamente um indivíduo letrado; alfabetizado é aquele indivíduo que sabe ler e escrever; já o indivíduo letrado, é não só aquele que sabe ler e escrever, mas aquele que usa socialmente e leitura e a escrita, pratica a leitura e a escrita, responde adequadamente às demandas sociais de leitura e escrita. (SOARES, 2009, p.39-40).

Dessa forma, além de trabalharmos com uma diversidade de textos que circulam socialmente, devemos levar os educandos a construir o sistema de escrita alfabético, cabendo à escola pensar em considerações tão importantes como: alfabetizar letrando e letrar alfabetizando.
Portanto, a organização do trabalho pedagógico deve ser pensada em função do que as crianças sabem e dos seus universos de conhecimentos, em relação aos conhecimentos e conteúdos que consideramos importantes que elas aprendam. Convém ressaltar que foi muito promissor elaborar esta resenha. Pois construí saberes teóricos tão relevantes para a minha prática docente. Indico a leitura do livro.

Obra resenhada:
Kieckhoefel, Josiane Cardozo. Da Alfabetização ao Letramento. IESAD: Massaramduba, 2012.

Nenhum comentário:

Postar um comentário