LIVROS BRINCAR E APRENDER NA EDUCAÇÃO INFANTIL
A Educação Infantil historicamente
tem sido concebida como um espaço de cuidado com caráter meramente
assistencialista. Porém novas concepções de infância vieram para desconstruir
esse conceito. Pois a criança passou a ser concebida como sujeito ativo do processo
educativo, construtora e consumidora de cultura. Nesse novo contexto
educativo foi imprescindível a elaboração de componentes avaliativos com o
objetivo de acompanhar o desenvolvimento e a aprendizagem da criança, visto que
esse processo ocorre de forma diferente das crianças maiores. Na educação
infantil a avaliação ocorre através do portfólio e do registro diário.
Assim, segundo LDB (9.394/96) no art. 29,
“a educação infantil tem por finalidade o desenvolvimento integral da criança
até seis anos de idade, em seus aspectos físico, psicológico, intelectual e
social, complementando a ação da família e da comunidade” (BOTH, 2011, p. 173).
Ainda segundo a LDB (9.394/96) citada por Both (2011, p. 173): “o art. 31 estabelece que a avaliação deve ser feita mediante acompanhamento e registro do seu desenvolvimento, sem o objetivo de promoção, mesmo para o acesso ao ensino Fundamental”.
Na
avaliação de uma criança, deve constar a trajetória de suas descobertas e
aprendizados, seus crescimentos e suas dificuldades, sempre se referindo a como
a criança foi no passado e como está no presente momento.
Cabe ao
educador, um olhar atento e reflexivo sobre o desenvolvimento de cada um dos
seus alunos,
perceber cada criança na sua individualidade, com suas limitações
e suas habilidades, dando ênfase a suas qualidades e ao seu crescimento durante
o decorrer do ano.
A forma
mais correta de avaliar na educação infantil é o parecer descritivo ou o
portfólio individual do aluno. Para o aluno a avaliação é apenas um modo de conhecê-lo melhor, suas
habilidades e suas deficiências, para o educador ela deve ser uma forma de
percepção de sua prática e deve apontar modos de aprimorá-la, ao avaliar não
devemos nos deter nesta ou naquela área, mas em todas as competências dos
nossos pequenos. JAMAIS, NUNCA, EM MOMENTO ALGUM, o aluno pode ter suas
habilidades comparadas ou julgadas, cada criança serve de parâmetro para si
mesma e jamais pode ser comparada com outra, mesmo que da mesma faixa etária.
[...]
Para conseguir realizar de forma satisfatória
esta avaliação, é preciso manter um caderno ANEDOTÁRIO, onde cada criança terá
seu espaço, para que o professor possa DIARIAMENTE (ou sempre que possível),
relatar acontecimentos pertinentes ao amadurecer de cada um. Desse modo existe
a necessidade de se observar os seguintes itens durante os registros para
posterior montagem do portfólio:
Novidade; Participação; Interação; Autonomia
Preferências; Colaboração; Característica; Como se comporta nas atividades; Como se relaciona com colegas/educadora; No que se destaca (no pátio, na dança, nas atividades matemáticas, atividades de linguagem, nas atividades artísticas ou musicais etc.). |
Como a criança chega à escola? Como se adapta ao ambiente e se alimenta? Como brinca e se move? Como se relaciona e se
comunica? Atende as solicitações da
educadora? O que faz quando contrariado? Reconhece
os colegas, os identifica? Se
identifica pelo nome, sua imagem no espelho? Tem capacidade de resolver conflitos e tomar iniciativas? É crítica e criativa? Curiosa e inventiva? É participativa e cooperativa?
|
Fonte:
SOARES, 2012, p. 01.
Para focar
o olhar em como se avalia, sugere-se atenção aos pontos abaixo elencados por
Santos (2012, p. 1):
Análises e
discussões periódicas sobre o trabalho pedagógico. Estas ações são realizadas nos encontros periódicos. Elas fornecem
elementos importantes para a
elaboração e reelaboração do planejamento. Igualmente importante é dar voz à criança. Nesse sentido, a
prática de avaliar coletivamente o
dia-a-dia escolar, segundo o olhar infantil, traz contribuições fundamentais e surpreendentes para o
adulto educador, ao mesmo tempo em que sedimenta a crença na concepção de
criança cidadã.
[...]
Observações e
registros sistemáticos das ações desenvolvidas na sala. Os registros podem ser feitos no caderno de planejamento, onde cada
professor/ recreador registra acontecimentos novos, conquistas e/ou mudanças de
seu grupo e de determinadas crianças; dados e situações significativos acerca
do trabalho realizado e interpretações sobre as próprias atitudes e
sentimentos. É real que, no
dia-a-dia, o professor/ recreador não consiga registrar informações sobre todas as crianças do seu grupo, mas
é possível que venha a privilegiar
três ou quatro crianças de cada vez e, assim, ao final do período, terá
observado e feito registro sobre todas as crianças.
[...]
Utilização de
diversos instrumentos de registro. Para
darmos espaço à variada expressão infantil, podem-se utilizados como instrumentos de registro de desenvolvimento arquivos
contendo planos e materiais referentes aos temas trabalhados, relatórios das
crianças e portfólios.
[...]
O
professor/recreador deve organizar um dossiê de cada criança, guardando aí seus materiais mais significativos e capazes de exemplificar seu
desenvolvimento. Também durante a vivência de um projeto de trabalho, cada grupo deve ter como meta a produção de um ou mais materiais que
organize o conhecimento constituído
acerca do assunto explorado. Assim sendo, o arquivo de temas é o dossiê do projeto realizado pelos grupos de uma mesma
instituição.
Um instrumento formalizado
da avaliação na educação infantil é o portfólio onde ficam registradas todas as
etapas de desenvolvimento e aprendizagem da criança por meio de registros,
produções das crianças e imagens (fotos das atividades). Esse instrumento é
entregue aos pais no final de cada semestre. O relatório diário também é de
suma importância, pois nele são registrados todos os processos desenvolvidos
com a criança e como foram aceitas por elas.
Nessa perspectiva, os
relatórios descritivos são a melhor forma de organizar dados referentes ao
desenvolvimento das crianças nas creches e pré-escolas. O professor consciente,
preparado, não vê o relatório como um formato trabalhoso de avaliar, mas como
um instrumento de suporte para a especificidade do exercício de sua profissão.
É uma forma de se autoavaliar, refletir sobre as estratégias utilizadas,
identificando com responsabilidade o que funciona e o que pode ser modificado.
[...]
Mas para que o
relatório seja eficiente, é necessário dispor de tempo para fazer pequenas
anotações diárias, sobre o comportamento, a participação, o envolvimento, o
equilíbrio psicológico, dentre outros, de cada aluno durante as aulas. O
professor não precisa anotar tudo, pois assim teria muito trabalho, mas anotar
as informações mais relevantes, atitudes da criança que mais chamaram a atenção
naquele dia, em determinado momento.
[...]
Ao final do bimestre terá juntado as mais
preciosas informações sobre cada aluno, o que lhe trará a segurança para
redigir os relatórios. Através do relatório o professor demonstra o quão
trabalhosa é a sua lida com as crianças, em razão dos detalhes que são citados
no mesmo – no dia tal, a aluna ajudou o colega a vestir a blusa, já apresenta
uma coordenação motora desenvolvida, pois conseguiu passar os fios do alinhavo
corretamente. Com isso, os pais vão tendo noção das atividades desenvolvidas,
bem como percebendo a importância de cada uma delas para o desenvolvimento da
criança, seja motor, cognitivo, afetivo ou social (BARROS, p.1).
A formação do professor
para atuar na educação infantil e, obviamente, avaliar o desenvolvimento dessas
crianças também foi motivo de debates entre muitos teóricos . Após muito debate e pesquisa elegi a definição do
RCNEI:
O trabalho com crianças pequenas exige que o educador
tenha uma competência polivalente. Ser polivalente significa que o educador
cabe trabalhar com conteúdos de naturezas diversas que abrangem desde cuidados
básicos essenciais até conhecimentos específicos provenientes das diversas
áreas do conhecimento. Este caráter polivalente demanda, por sua vez, uma
formação, bastante ampla e profissional que deve tornar-se, ele também um
aprendiz refletindo constantemente sobre sua prática, debatendo com seus pares,
dialogando com as famílias e comunidades e buscando informações necessárias
para o trabalho que desenvolve. São instrumentos essenciais para a reflexão sobre
a prática direta com as crianças a observação, o registro, o planejamento e a
avaliação. (BRASIL, 1998, p. 41).
A LDB (9.394/94) citada por
Forest (2012) dispõe, no título VI art. 62: A formação de docentes para atuar na educação básica
far-se-á “em nível superior, em curso de licenciaturas, de graduação plena, em
universidades e institutos superiores de educação admitida, como formação
mínima para o magistério na educação infantil e nas quatro primeiras séries do
ensino fundamental, a oferecida em nível médio, na modalidade normal”.
Nessa perspectiva, torna-se
necessário que os profissionais, nas instituições de educação infantil, venham
a ter uma formação sólida, que propicie o desenvolvimento de habilidades e
conhecimentos teórico-práticos essenciais para a sua ação educativa. Portanto,
“o diálogo, no interior da categoria, tanto quanto os investimentos na carreira
e formação do profissional pelas instituições de ensino, é atualmente, desafio
presente, com vista à profissionalização do educador de educação infantil”
(FOREST, 2012, p. 6).
A formação do professor infantil
precisa estar inserida na concepção de educação infantil, baseada em seus
pressupostos educativos. Deve buscar a superação da dicotomia
educação/assistência, levando em conta o duplo objetivo da educação infantil de
cuidar e educar.
Pois
o professor de educação infantil é aquele que “ensina que deve possuir
competência (que supere a improvisação, o amadorismo e a mediocridade), tenha
precisão, rigor filosófico e disciplina metodológica, criatividade na forma de
entender e trabalhar o conhecimento conforme o contexto em que foi produzido”.
(ACRE, 2001, p. 181). É aquele que acolhe a todas as crianças sem distinção. É
aquele que dá amor, e que a ajuda a crescer continuamente. E avalia segundo o
desenvolvimento e a capacidade de cada criança e não apenas atribuindo
conceitos e notas.
No entanto, é importante analisar
essa formação à luz da contribuição do Xº Encontro Nacional da ANFOPE (2000)
onde foram estabelecidos alguns princípios que devem se constituir como a base
comum nacional, para a formação docente, que podem ser, assim, sintetizados:
• Sólida Formação Teórica e Interdisciplinar sobre o
Fenômeno Educacional – compreensão histórica dos acontecimentos sociopolíticos,
em consonância com o domínio de conteúdos ensinados pela escola, dentro de uma
visão crítica.
• Unidade entre Teoria e Prática – interlocução essa que
deve ser assegurada durante todo o curso, através da reformulação de estágios
que devem se constituir como práxis educativa.
• Gestão democrática como instrumento de luta contra a
gestão autoritária, para poder superar essa postura e poder vivenciar a
participação efetiva no campo de uma gestão democrática e transparente, que
envolva a comunidade escolar.
• Compromisso Social do Profissional da Educação –
compreensão das lutas e conquistas históricas dos professores que têm, como
objetivo, a construção de uma sociedade politicamente e socialmente
compromissada, com os objetivos e necessidades educacionais.
• Trabalho coletivo e Interdisciplinar – busca da instauração
do trabalho integrado, entre o professor-aluno e entre os próprios professores,
na ação e no pensamento, na perspectiva da parceria entre as disciplinas, para
a construção de um projeto-curricular, que garanta a aprendizagem dos alunos.
• Formação inicial articulada à formação Continuada assegurando solidez teórica-prática na
formação inicial e o diálogo permanente entre o lócus dessa formação e o mundo do trabalho.
Acredita-se que os professores da
Educação Infantil precisam ser considerados, tendo em vista sua trajetória de
formação e profissionalização. Esses profissionais precisam desenvolver competências
que os tornem aptos ao trabalho com crianças pequenas, trabalho esse que
dispensa o modismo e a mediocridade do assistencialismo.
O professor na educação infantil
é o mediador e, portanto, deve desenvolver processos educativos condizentes com
seu alunado. Na educação infantil esse processo se consolidaliza na articulação
do cuidar e educar e nas propostas que envolvam os jogos e brincadeiras no
desenvolvimento e na aprendizagem infantil, de forma que as atividades
desenvolvidas sejam estimulantes, lúdicas e atrativas.
Referencias:
ARCE, A.; MARTINS,
L. M. (org.) Quem tem medo de ensinar na
educação infantil? Em defesa do ato de ensinar. Campinas: Alínea, 2007.
BARROS, J. Educação Infantil e avaliação. Disponível em <http://educador.brasilescola.com/orientacoes/educacao-infantil-avaliacao.htm>.
Acesso: Out/2012.
BRASIL. Referencial
curricular para Educação infantil. V.1. Brasília: MEC/SEF, 1998.
_______. Lei de Diretrizes e Bases da Educação
nº 9. 394 de 1996. Brasília: MEC, 1996.
FOREST. N. A. Cuidar e Educar:
perspectivas para a prática pedagógica na educação infantil. Instituto
Catarinense de Pós- Graduação, 2008. Artigo < http://www.sst.sc.gov.br/arquivos/eca20/seminario1/Cuidar_e_Educar_Icpg%5B1%5D.pdf>. Acessado: Ago, 2012.
Nenhum comentário:
Postar um comentário