O silêncio das crianças
Talvez por noites não consigamos sonhar.
Pelo medo de perdermos nossa humanidade, não possamos fechar os olhos.
Com a bala da impotência explodindo em nossas lembranças, não assistiremos os telejornais.
Ou, paradoxalmente, justamente por isso não possamos desgrudar os nossos olhos estupefatos dos monitores.
Talvez, nas vezes infinitas que nos lembremos de tal cena dantesca, nossas lágrimas não parem de rolar.
Entre cada saída de casa, olhemos com mais atenção nossas escolas cheias de brasileirinhas e brasileirinhos.
E ao passarmos em frente a cada uma delas, vislumbremos em cada vulto que acharmos suspeitos um assassino em potencial.
Em cada estudante correndo nossos corações disparem e gritemos por socorro.
Talvez, talvez...
Nesse momento, antes que qualquer talvez prevaleça, pode já ser tarde.
Não há razão no ato desolador de nos vermos sempre chorando por algo que não tinha razão de ser.
Nesse mundo desarrazoado, onde lamentamos a morte prematura de nossas crianças, não há tempo para mais e mais lamentações.
Não, não há...
O que colheremos no futuro se assassinamos o presente?
Onde estamos que não conseguimos agir?
O que sonharemos, se nossos sonhos estão sendo mortos?
Que perguntas poderemos ainda fazer? Ou pra quem? Ou pra quê?
Que o silêncio das crianças nos respondam...
Pepê Mattos
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